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Compreendendo aspectos culturais da Antiguidade.

Templos de Abu Simbel

Conheça mais o complexo de templos construídos por um dos maiores faraós da história, Ramsés II - O grande.

Heracleion é descoberta

A cidade de Cleópatra que permaneceu por mais de milênios submersa é encontrada por arqueólogos, saiba como foi a descoberta e veja fotos.

Morre Prof. Dr. Ciro Flamarion

Uma grande perca para a historiologia brasileira e mundial, saiba um pouco mais sobre esse gênio brasileiro e conheça suas principais obras.

23 de setembro de 2014

VISÃO GERAL DO EROTISMO NO ANTIGO EGITO

O erotismo egípcio antigo pode ser representado, basicamente, em três tipos de fontes. A primeira delas pode ser encontrada na forma de imagens gráficas (papiros, gravação sobre pedras, utensílios domésticos, etc.), a segunda em redações literárias (como poemas) e a terceira nas chamadas "artes práticas" (textos médicos, diários de viagens, etc.). Entretanto, a quantidade de fontes que encontramos relacionadas à temática sexual-erótica é escassa e quando encontrada, na maioria das vezes, carece de conservação. Sexualidade e erotismo estavam ligados a um modo religioso de ver o mundo por parte dos antigos egípcios. As manifestações de caráter erótico não eram vistas como "mundanas" pela população do Nilo. Pelo contrário. Eram relacionadas com rituais de fertilidade que garantiam a fecundidade das terras próximas ao Nilo. Deuses com histórias mitológicas carregadas de sexualidade eram Osíris, Ísis, Seth e Hórus (outros casos também existem).

EL-QHAMID; TOLEDANO, Joseph. Erotismo e sexualidade no Antigo Egito. Ediciones Folio S.A.: Barcelona, 2007. p. 57.
Cena do Papiro Erótico de Turim onde observamos a carência de conservação da fonte.

Cena acima reconstruída
Cena acima reconstruída
O Papiro Erótico de Turim, encontrado em Deir el-Medina, é a fonte escrita mais conhecida quando se trata de estudos relativos ao erotismo na Terra dos Faraós. Armazenado no Museu Egípcio de Turim, está em um avançado estado de deterioração. Basicamente ele apresenta uma sequência de doze cenas que envolvia uma orgia entre homens e mulheres. O papiro é guardado com bastante cuidado e necessita-se de uma autorização especial para analisá-lo de perto. Curiosamente, tal como os gibis modernos, algumas das cenas libertinas exibem um pequeno texto anexo. Seria um recurso explicativo? A região de Deir el-Medina tinha uma considerável produção de artefatos relacionados ao erotismo. Se grande era a produção, maior ainda, podemos cogitar, que seria a demanda. “[...] A extraordinária importância que as classes mais baixas do Egito antigo davam a sexualidade foi retratada nos achados arqueológicos. [...]” (EL-QHAMID; TOLEDANO, 2007: p. 23).
Para os antigos habitantes do Nilo cada órgão ou ato sexual poderia apresentar uma dúzia de sinônimos, sendo o homem, sempre, o elemento dominante do erotismo egípcio. Os autores de “Erotismo e Sexualidade no Antigo Egito”, El-Qhamid e Joseph Toledano, também nos falam a respeito da chamada “prostituição ritual” que acontecia tanto nos arredores do Egito quanto no próprio Egito: “[...] Nas culturas vizinhas do Egito, a prostituição ritual era muito difundida, e nos centros de culto religioso havia prostíbulos ‘para a glória do deus’. Como resultado da prostituição ritual, os lugares sagrados eram decorados com pinturas e esculturas eróticas que serviam de chamariz. Em contrapartida, não existe unanimidade em torno da ideia de que, no Egito, a prostituição tenha sido institucionalizada [...].” (EL-QHAMID; TOLEDANO, 2007: p. 24).
Um fato bastante interessante dentro desta temática sexual-erótica, são os dados relativos ao adultério, ato que seria praticado pelas mulheres dos trabalhadores do Vale dos Reis. Os operários eram naturais de Deir el-Medina e iam para o Vale trabalhar na construção das tumbas. Ficavam por um período de dez dias e após isso voltavam para suas casas para descansarem num intervalo de três dias. O tempo em que os maridos estavam fora de casa era “hora perfeita” para o adultério feminino acontecer. Em outros relatos vemos casos de homens e mulheres que se relacionavam intimamente com animais (zoofilia). Entretanto, tendo em vista que viviam sobre uma cultura diferenciada, necessitamos perceber que esse ato tinha caráter religioso para os egípcios. A homossexualidade masculina era relativamente tolerada, graças, principalmente pelas aventuras entre Seth e Hórus. O lesbianismo aparecia em alguns textos, mas era menos frequente.

Reconstrução do Papiro Erótico de Turim
Reconstrução de parte do Papiro Erótico de Turim

Muito populares na época estavam os amuletos e remédios para melhorar o desempenho sexual. Receitas para cessar a impotência, aumentar a fertilidade e até precaver a gravidez indesejada já eram de uso habitual entre homens e mulheres desde os tempos faraônicos. E, ao contrário do que ainda conseguimos perceber na sociedade atual, erotismo e sexualidade não encarados como tabu pelos antigos egípcios. Tudo era uma questão de costume ou então, de um ponto de vista religioso.


REFERÊNCIAS:
EL-QHAMID; TOLEDANO, Joseph. Erotismo e sexualidade no Antigo Egito. Ediciones Folio S.A.: Barcelona, 2007. p.p. 13-29.

14 de setembro de 2014

O papel da mulher no Antigo Egito

Amon-Rá abençoando a rainha Hatshepsut com honras de faraó.
 Relevo do deus Amon-Rá abençoando a rainha Hatshepsut com honras de faraó.
Mesmo desde a época pré-dinástica e, sobretudo no período dinástico, a mulher egípcia já desfrutava de uma invejável posição sócio-política-cultural, chegando, em certos períodos, a equiparar-se ao homem. Seu prestígio era bem mais acentuado que o de suas contemporâneas de sociedades vizinhas. Historiadores gregos, como Heródoto, Plutarco, Diodoro e Hecateu de Mileto, ficaram surpresos diante da hierarquia que a mulher egípcia ocupava na comunidade. Juridicamente, possuía os mesmos direitos, prerrogativas e as mesmas responsabilidades.

Podiam dispor de bens próprios e ser proprietárias de terras por elas mesmas administradas; participavam de transações comerciais; também herdavam bens e faziam testamentos. Quando se casavam, continuavam a dispor de seus bens e, em caso de separação do cônjuge, tinham seus direitos garantidos. Iguais perante aos códigos de leis, podiam apresentar-se diante dos tribunais como acusadoras, defensoras ou testemunhas. Eram responsáveis pelos seus atos e, igualmente, estavam sujeitas às mesmas penalidades ou castigadas com a mesma severidade que as dispensadas aos homens.

A condição normal da mulher era a de casada, constituindo parte de uma família monogâmica, núcleo da sociedade egípcia na época faraônica. As representações de casais e seus filhos mostram a importância da estrutura familiar e o papel fundamental representado pela mulher. Esse prestígio de que a mulher egípcia gozava se fazia sentir, não só no setor político e religioso, mas ainda na esfera social e nas diversas profissões de nível superior. Há relatos de duas médicas que ficaram conhecidas no Antigo Egito, inclusive exercendo cargos de chefia e outros de trabalho de grande responsabilidade.

A primeira médica citada nos textos é NEFERICA-RÁ ou NEFER-KA-RÁ, médica-obstetra que atuou na corte do Faraó SAHURÁ – 5ª. Dinastia (2494-2345 a.C.). Outra médica, mais citada nos textos, foi PESESHET que atuou durante o reinado do Faraó Amenhotep III – 18ª. Dinastia – Novo Império (1552-1305 a.C.). Exerceu suas funções como “diretora de equipe de médicos” e, nas representações, era sempre citada como “aquela que arbitra” ou “aquela que decide”, confirmando sua posição como uma autoridade conceituada no âmbito da Medicina. PESESHET foi homenageada por seu filho, o Sacerdote Akhet-Hetep, que lhe dedicou uma Estela comemorativa em Gizé, na qual estão claramente gravados o nome e os títulos honoríficos de sua mãe.


Devemos ressaltar que a posição sócio-cultural e profissional alcançada pela mulher não se restringia apenas àquelas pertencentes à nobreza. Também as mulheres do povo desfrutavam de dignidade e de respeito na sociedade faraônica.Mas, o auge do prestígio da mulher no Antigo Egito pode ser facilmente avaliado pelas importantes realizações no âmbito religioso e na realeza. Princesas e as esposas dos faraós exerciam atividades de grande relevo nas práticas religiosas. Eram as “Divinas Adoradoras de Amon” – “Divinas Esposas Reais” – “Mães do Faraó-Deus” – “Cantoras de Amon”. Participavam ativamente dos rituais de oferendas às divindades, cerimônias de consagração e de jubileus, orações e procissões de barcas sagradas.


Em toda essa representatividade a mulher, como sacerdotisa da divindade (de ÍSIS, de HATHOR, de SEKHEMET) tinha um papel preponderante, mormente naqueles rituais em que se celebrava o nascimento do “Filho Divino”, do Faraó-Deus, representados profusamente nos santuários dos “mamisis”, em vários templos. E, como corolário desse prestígio, não podemos deixar de citar as famosas “rainhas-Faraós”, cujos nomes a história tem conservado tão zelosamente e que exerceram suas funções como soberanas incontestes, dedicando suas vidas aos ideais de bem governar o Egito, a grande potência da Antiguidade.

Tumba de Nefertari no Vale das rainhas.
Nefertari, a esposa real do faraó Ramsés II (XIXª dinastia). 

Eis-nos, então, diante de uma plêiade de rainhas autênticas e consagradas: – Nitócris – Hatchepsut – Nefertiti – Tausert – Cleópatra – nomes que os séculos têm repetido e relembrado como mulheres que gravaram em suas vidas os marcos da glória e do poder.



Texto do Professor, doutor, e membro do ex-Centro de Egiptologia e atual GEAF (Grupo de estudos avançados) Prof. Dr. Geraldo Rosa Lopes.


Referências bibliográficas.
LOPES, Geraldo Rosa. O Papel da Mulher no Antigo Egito.